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  • Foto do escritorMarcela Picanço

Saudade de quem não vem mais

Atualizado: 8 de dez. de 2020

Às vezes me bate uma saudade de você. Do nada, no no meio da rua, no ônibus de volta pra casa. Às vezes me dá vontade de chorar, mas eu seguro, o que é uma bobagem, mas não vejo muito sentido em me entregar a um sentimento que eu não sei bem o que significa.

Saudade é palavra engraçada. Eu sinto saudade de quem eu ainda sei que vou ver, alguém que mora longe, que não vejo há meses. Mas deveria existir um nome pra isso que a gente sente em relação a quem não vem mais.

Não sinto dor, nem tristeza e nem saudade exatamente. Aquele buraco no meio do peito que se abria, sempre que eu lembrava de você, se fechou há uns anos. Por isso não entendo o motivo do choro. Deve ser uma forma de transbordar esse sentimento que não tem nome.

Às vezes, secretamente, eu ligo pro seu número com esperanças de você atender do outro lado. É meio estranho, eu sei, mas ainda sei de cor mesmo depois de tanto tempo. O mais doloroso é saber que não posso mais te ligar. E nem receber suas ligações.

Você me ligava muito e eu ficava irritada. Eu queria poder ficar irritada com você de novo. Ninguém fala sobre isso. É óbvio que não podemos encontrar as pessoas que morrem. Mas e ligar? Ninguém me avisou que depois da morte não existe mais contato telefônico.

Podia existir um número que você ligasse pro além e pudesse falar com os mortos. E se fosse pré-pago, com certeza, você colocaria créditos pra gente se falar. Eu ia te contar tanta coisa. Faz tanto tempo que a gente não se vê que talvez o créditos acabassem antes de eu terminar de contar tudo. E mesmo assim iam faltar partes. Partes que até eu mesma esqueci.

É louco como a vida se reestrutura sempre, mesmo com uma parte faltando. Hoje você não me faz mais aquela falta, mas sempre me pego querendo comentar alguma coisa com você. São as coisas que eu guardo pra mim. E te ligo e conto tudo mentalmente. Torço para que você esteja do outro lado dessa linha telefônica que nos conecta.



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