
Observo enquanto ela tenta, frustradamente, fazer a impressora funcionar. Os longos cabelos cacheados estão emaranhados em um ninho de rato. Resultado de frustrações de uma noite anterior. Lambo minhas patas e relaxo no sofá, olho esta cena tragicômica.
Humana boba…
Não sabe ela que, assim como os animais que sentem o nervosismo das pessoas, as impressoras sentem quando você está com pressa?
Me impressiona o quanto Carolina se estressa por tudo. Pelo trânsito que pegou no dia. Pela mãe que, novamente, lhe criticava a aparência. Comigo porque deixei um passarinho morto em frente a porta do quarto.
Era apenas um presente…
Começo a tomar o meu banho. Lambo lentamente os meus longos pêlos brancos, enquanto Carolina digladia com a impressora. Batalha sangrenta. Ouso dizer que não houve vencedores.
Ela senta no chão e começa a chorar.
Lágrimas se misturam com a tinta dos ferimentos da impressora. No fim, os líquidos saem de ferimentos comuns. De Carolina na impressora. Da impressora no emocional de Carolina.
Agora pare. Eu sei o que você pensa. Sim, você! Que sou apenas um gato egoísta. Que me divirto com a pequenez dos dramas humanos, enquanto tomo um banho no sofá.
Pois saiba que sou, sim, egoísta. Talvez ela tivesse que aprender um pouco mais comigo, a seguir a vida com leveza felina.
Mas a minha humana é tão boba… Passa tanto tempo dando importância ao que os outros pensam dela.
Interrompo o meu banho e sento no colo de Carolina, frio e úmido em decorrência das lágrimas. Ela para de chorar. Sente o meu calor e começa a me fazer carinho.
Ainda não posso afirmar que Carolina aprendeu a viver como um gato, mas por ora a deixo pegar emprestado um pouco da minha despreocupação.
Talvez ela até me perdoe pelo lance do passarinho…